O bairro da Pelinca exemplifica bem a realidade da cidade. Foto: divulgação |
Campos
dos Goytacazes é uma daquelas cidades que se fizeram importantes ao
longo das décadas, inicialmente pelos grandes usineiros, que a
colocou no patamar das economias fortes e das rendas centralizadas,
posteriormente pelo advento do petróleo, responsável por alavancar
a industrialização regional. Os anos foram passando e a cidade
crescendo, porém sem se desenvolver. Nos dias atuais está
configurada entre as mais importantes do país, e nem por isso
consegue fazer com que algumas áreas sejam de excelência, como é o
caso de serviços prestados, que, além de ineficientes não condizem
com a realidade do padrão de vida da maior parte da população
campista. Pelo menos isso é o que dizem moradores e especialistas.
O
advogado Carlos Anderson Macedo Barreto, que passou a ter endereço
na cidade em 2004, exemplifica bem a realidade vivida pelos nativos e
também pelos turistas, principalmente os de negócios. “Tem oito
anos que resido em Campos. Desde que cheguei não vi muita mudança
acontecer. Todo e qualquer serviço não tem qualidade. No setor de
alimentação, além da demora no atendimento, não se vê simpatia
em quem te atende. Quase sempre tudo é feito com má vontade, com
falta de profissionalismo”, relata, lembrado que são poucos
estabelecimentos que conseguem proporcionar aos clientes um
atendimento eficaz.
Ele
observa que em alguns casos o que leva a esse agravamento é o número
insuficiente de funcionários, já outros se dá pelo despreparo.
“Nem a chegada das grandes franquias na cidade mudou o cenário
local. Nada é mais constrangedor que você entrar em determinado
estabelecimento e perceber que os funcionários estão fazendo
brincadeiras, às vezes nem a seu respeito, mas sobre outro cliente”,
pondera destacando: “o atendimento em todos os setores deveriam ter
evoluído, assim como o aumento das tabelas de preços. Claro que não
se compara ao de Macaé, por exemplo.”
Marcelo Mérida presidente da CDL Campos. Foto: Site Ururau |
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-Campos), Marcelo
Mérida defende que houve evolução na qualidade da prestação de serviço,
principalmente do comércio, mas isso não foi ao acaso. A
transformação da cidade em polo de educação impactou diretamente.
Hoje, os mais de 30 mil estudantes integram o comércio não só como
consumidores. Muitos têm nele o sustento para os estudos. O recente
processo industrial deu início à mudança. “O setor de comércio
e serviços terá de se aperfeiçoar com uma segunda língua, por
exemplo, que é o Inglês. Campos se apresenta como ‘a bola da vez’
do Estado do Rio, para os mais otimistas como da Região Sudeste, o
que engloba São Paulo,” pondera Mérida.
Para
o presidente do Sindicato dos hotéis, restaurantes e bares
(SINDHORES), Ricardo Meyle, a falta de qualidade nesse setor tem
ligação com o passado. “A cidade por décadas viveu em função
do trabalho na cana de açúcar, tendo baixo índice de formação e
escolar inclusive. Quem tinha um melhor preparo saía desse mercado
para ganhar espaço em outros setores. Mas hoje quem está preparado,
as grandes redes acabam puxando. Um exemplo está nos hotéis, onde
existe dificuldade de qualificar os profissionais do setor. muitas
empresas até querem pagar para qualificar, mas falta quem faça”,
relata.
Salvo
as grandes redes, a realidade em que o empresariado local, em sua
maioria, pega o empregado a laço, não exige e nem oferece qualquer
qualificação de atendimento além de oferecer salários baixos, por
isso muitos preferem buscar qualificação em outras áreas onde
enxergam a possibilidade de ganhos melhores. “Estamos buscando a
profissionalização da mão de obra do setor, hoje são pegas a laço
e treinadas no próprio ambiente de trabalho, por outros
trabalhadores que também não tiveram qualificação”, argumenta
Meyle.
Medir
o custo de vida ou dos serviços prestados na cidade requer
habilidade. Para o economista Alexandre Said Delvaux, da Universidade Cândido Mendes, isso inviabiliza uma definição exata da realidade.
“A primeira dificuldade é não existir um índice que mede a
inflação na cidade, o que complica uma avaliação com dados
técnicos. Mas se percebe que em relação ao custo de vida, de modo
geral, ele tem crescido. Isso é uma constatação atribuída a
questões como o aumento da demanda em função da expectativa de
crescimento da região”, apontada destacando que “está mais caro
viver em Campos”.
Para
o economista esse aumento é visível quando comparado o preço da
refeição em Campos, hoje mais cara que no Rio de Janeiro. “Esse
aumento é provocado pela chegada dos novos empreendimentos”,
reforça Delvaux, lembrando que “as empresas locais ainda não se
sentem pressionadas para proporcionar uma melhor qualidade de
atendimento, pela falta de competição ou mesmo por não estarem
preparadas para essa nova demanda, por isso a cidade não tem uma boa
qualidade de oferta de serviços. Enquanto existir essa zona de
conforto dessas empresas, elas ficarão assim”, diz.
Para
haver uma estabilidade no aumento dos preços e na melhora da
qualidade na prestação de serviços ele destaca: “Só haverá
estabilização se a oferta superar a demanda. Se for o contrário os
preços subirão ainda mais rápido. Os alugueis são indicadores de
preços importantes de uma cidade”, detalha.
publicado em julho-agosto/2012 - Revista Imagem
Nenhum comentário:
Postar um comentário