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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

CAMPOS DOS GOYTACAZES: CUSTO DE VIDA ELEVADO E QUALIDADE DE SERVIÇOS PRESTADOS RUIM

O bairro da Pelinca exemplifica bem a realidade da cidade. Foto: divulgação

Campos dos Goytacazes é uma daquelas cidades que se fizeram importantes ao longo das décadas, inicialmente pelos grandes usineiros, que a colocou no patamar das economias fortes e das rendas centralizadas, posteriormente pelo advento do petróleo, responsável por alavancar a industrialização regional. Os anos foram passando e a cidade crescendo, porém sem se desenvolver. Nos dias atuais está configurada entre as mais importantes do país, e nem por isso consegue fazer com que algumas áreas sejam de excelência, como é o caso de serviços prestados, que, além de ineficientes não condizem com a realidade do padrão de vida da maior parte da população campista. Pelo menos isso é o que dizem moradores e especialistas.

O advogado Carlos Anderson Macedo Barreto, que passou a ter endereço na cidade em 2004, exemplifica bem a realidade vivida pelos nativos e também pelos turistas, principalmente os de negócios. “Tem oito anos que resido em Campos. Desde que cheguei não vi muita mudança acontecer. Todo e qualquer serviço não tem qualidade. No setor de alimentação, além da demora no atendimento, não se vê simpatia em quem te atende. Quase sempre tudo é feito com má vontade, com falta de profissionalismo”, relata, lembrado que são poucos estabelecimentos que conseguem proporcionar aos clientes um atendimento eficaz.

Ele observa que em alguns casos o que leva a esse agravamento é o número insuficiente de funcionários, já outros se dá pelo despreparo. “Nem a chegada das grandes franquias na cidade mudou o cenário local. Nada é mais constrangedor que você entrar em determinado estabelecimento e perceber que os funcionários estão fazendo brincadeiras, às vezes nem a seu respeito, mas sobre outro cliente”, pondera destacando: “o atendimento em todos os setores deveriam ter evoluído, assim como o aumento das tabelas de preços. Claro que não se compara ao de Macaé, por exemplo.”

Marcelo Mérida presidente da CDL Campos. Foto: Site Ururau
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-Campos), Marcelo Mérida defende que houve evolução na qualidade da prestação de serviço, principalmente do comércio, mas isso não foi ao acaso. A transformação da cidade em polo de educação impactou diretamente. Hoje, os mais de 30 mil estudantes integram o comércio não só como consumidores. Muitos têm nele o sustento para os estudos. O recente processo industrial deu início à mudança. “O setor de comércio e serviços terá de se aperfeiçoar com uma segunda língua, por exemplo, que é o Inglês. Campos se apresenta como ‘a bola da vez’ do Estado do Rio, para os mais otimistas como da Região Sudeste, o que engloba São Paulo,” pondera Mérida.

Para o presidente do Sindicato dos hotéis, restaurantes e bares (SINDHORES), Ricardo Meyle, a falta de qualidade nesse setor tem ligação com o passado. “A cidade por décadas viveu em função do trabalho na cana de açúcar, tendo baixo índice de formação e escolar inclusive. Quem tinha um melhor preparo saía desse mercado para ganhar espaço em outros setores. Mas hoje quem está preparado, as grandes redes acabam puxando. Um exemplo está nos hotéis, onde existe dificuldade de qualificar os profissionais do setor. muitas empresas até querem pagar para qualificar, mas falta quem faça”, relata.

Salvo as grandes redes, a realidade em que o empresariado local, em sua maioria, pega o empregado a laço, não exige e nem oferece qualquer qualificação de atendimento além de oferecer salários baixos, por isso muitos preferem buscar qualificação em outras áreas onde enxergam a possibilidade de ganhos melhores. “Estamos buscando a profissionalização da mão de obra do setor, hoje são pegas a laço e treinadas no próprio ambiente de trabalho, por outros trabalhadores que também não tiveram qualificação”, argumenta Meyle.

Medir o custo de vida ou dos serviços prestados na cidade requer habilidade. Para o economista Alexandre Said Delvaux, da Universidade Cândido Mendes, isso inviabiliza uma definição exata da realidade. “A primeira dificuldade é não existir um índice que mede a inflação na cidade, o que complica uma avaliação com dados técnicos. Mas se percebe que em relação ao custo de vida, de modo geral, ele tem crescido. Isso é uma constatação atribuída a questões como o aumento da demanda em função da expectativa de crescimento da região”, apontada destacando que “está mais caro viver em Campos”.

Para o economista esse aumento é visível quando comparado o preço da refeição em Campos, hoje mais cara que no Rio de Janeiro. “Esse aumento é provocado pela chegada dos novos empreendimentos”, reforça Delvaux, lembrando que “as empresas locais ainda não se sentem pressionadas para proporcionar uma melhor qualidade de atendimento, pela falta de competição ou mesmo por não estarem preparadas para essa nova demanda, por isso a cidade não tem uma boa qualidade de oferta de serviços. Enquanto existir essa zona de conforto dessas empresas, elas ficarão assim”, diz.

Para haver uma estabilidade no aumento dos preços e na melhora da qualidade na prestação de serviços ele destaca: “Só haverá estabilização se a oferta superar a demanda. Se for o contrário os preços subirão ainda mais rápido. Os alugueis são indicadores de preços importantes de uma cidade”, detalha. 

publicado em julho-agosto/2012 - Revista Imagem

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